sábado, 3 de julho de 2010

Capitulo II - Sentimentos & Acontecimentos

A nova cidade,tinha um ar reconfortante a casa que nós fora arranjada era simplesmente agradável.Novamente eu tinha um quarto só para mim,o nosso começo naquela casa fora um tanto apertado,minha mãe ainda não tinha um emprego fixo e as coisas se dificultavam devido à minha mãe não ter uma formação certa,quando conseguiu um trabalho,esse trabalho determinou coisas tão importantes para o nosso futuro,que acabamos por ter um negocio, uma coisa nossa,algo que conquistamos.Ela se tornou uma ‘chef’ em doces,ela acabou por conciliar as coisas que mais adorava.E se sentiu realizada diante de tudo aquilo,nós não tivemos noticiais de Terrytown durante quatorze anos.
Durante todo esse tempo,a escola me tomou uma atenção maior do que a dos meus sentimentos,nunca tive amigas na nova escola,e por um tempo minha mãe se preocupou com aquilo,sua duvida foi tirada quando eu lhe disse que eu não conseguia acreditar em ninguém a não ser em Peter,os poucos namorados que tive esperaram um tipo de “doação” maior do que aquela que eu podia dar, jamais pronunciei à eles que eu os amava,apesar de ouvir milhões de vezes aquilo.
Eu gostava,mas,não amava,isso eram coisas totalmente diferentes. Durante quatorze anos,eu vivi em uma cidade agradável e movimentada, vivendo tudo aquilo que me fora oferecido.A faculdade que decidir seguir era bem conveniente com a situação de minha infância.Não fora nada fácil ter uma rotina totalmente ocupada,mais aos poucos eu peguei o ‘ritmo da coisa’.
O negocio de minha mãe ia de “vento em polpa”,os cidadões adoravam suas ‘invenções’.Quando eu tinha uma folga dos estudos,eu a ajudava.
Minha mãe foi feliz sozinha durante seis anos,quando um novo cidadão apareceu na cidade e tomou seu coração,ela se casou novamente.Meu padrasto tinha especialidade em medicina,e eu via que ele amava minha mãe, seu nome era Robert Johnson.
Não demorou muito para que eu saísse da escola e ir me especializar.Crimes hediondos fora a área escolhida.
Então,era hora de eu voltar no tempo e cumprir uma promessa importante.

Não lembro exatamente quanto tempo passei na estrada,mas,aquilo não importava para mim,com meus 24 anos recém completados e uma mochila.Eu estava voltando para a cidade onde aos meus 10 anos eu saí completamente derrotada.Agora eu voltava,não como uma menina,mas,como uma mulher que o tempo só fez amadurecer ao longo dos anos.
A cidade tinha a mesma paisagem,ela só estava sendo tomada pela industrialização que parecia ter se fortalecido com o tempo,trazendo assim os benefícios do turismo e comercio de grande porte para a cidade.
Tive que encará-la com um certo brilho nos olhos,era indispensável a ironia.
Então,estacionei o carro defronte ao meu destino,eu entrei no estabelecimento,ele não mudará nada.Avistei dois,ate três,funcionários novos,deviam ser recém-formados ou estudantes tendo um trabalho de meio período que o restaurante-bar de tia Beth oferecia.
Era muito engraçado como tudo aquilo me fazia lembrar de coisas que passei,ali mesmo na minha infância.Eu avistei a senhora conhecida,atrás do balcão e pedi um uísque duplo,afim de que ela me reconhecesse.Um leve olhar foi me dado,mas,parecia que ela não sabia de onde havia me visto,então foi quando perguntou :

- O que traz uma jovem como você por essas bandas?
- Estou atrás de um velho amigo.
- Ah,um amigo? Deduzi que você não era daqui assim que entrou.Você me lembra uma velha amiga.
- Acho que sei de quem a senhora está falando,mas,acho que não me pareço nem um pouco com ela – brinquei.
- Não,não minha cara,acho que você não a conhece,ela se foi desta cidade faz quatorze anos,amanha. – Disse,com o olhar distante.
- Como eu haveria de não conhecer minha própria mãe? – de repente seus olhos se arregalaram,e eu concordei com a cabeça,o tal pensamento que deveria estar passando por sua cabeça naquele exato momento.
- OH! Eu não acredito! – Exclamou – Como você está grande minha querida! Onde esta sua mãe?
- Ela não sabe que eu vim,senão teria vindo sem duvida.Ela se casou novamente. – Disse.
- Não acredito! Ele esta fazendo ela feliz,não esta? – Ela disse pondo as mãos na cintura.
- Esta sim,ele é uma ótima pessoa,nos ajudou muito.Ela tem o próprio negocio e eu acho que ela esta grávida – Este ultimo,eu meio que sussurrei,como se fosse um segredo.
- Oh,meu deus! Minha querida,Alice! – Exclamou mais uma vez – Acho que o velho amigo que você estava se referindo é Peter,não?
- Sim! – Meus olhos brilharam e eu pude sentir minha pele esquentar.
- Ah,querida,ele esta no trabalho agora,mas,deve voltar a noite! Onde você ira dormir?
- Pensei em passar a noite na velha pensão da senhora Mercedes.
- Nada disso! Você irá ficar aqui.Não vou deixá-la ficar por ai mal agasalhada.
- Não quero lhe dar trabalho,tia.
- Não irar dar nenhum,você e sua mãe,sempre serão bem-vindas aqui.
- Obrigada! A senhora ate hoje,faz as coisas pela gente,eu só tenho a agradecer.
- Por nada,querida.Eu só fiz minha parte. – Disse,sorrindo – Vamos lá,pegue suas coisas,vai dormir no quarto de Peter.
Eu lhe respondi com um sorriso que ia de orelha em orelha.
Quando entrei no quarto,muitas coisas haviam mudado.Fotos estavam empilhadas em um quadro magnético na parede,o papel de parede também havia mudado,pôsteres ocupavam uma parede.A cama estava maior,mas,ainda no mesmo lugar a lamparina de bichinhos,nada lhe substituiu.
Como aquele quarto me trazia recordações,liguei a lamparina e resolvi me deitar um pouco na cama.Devo ter adormecido,pois quando acordei já estava escuro e uma breve olhada no relógio de pulso,indicava que eram 19:45.
Resolvi fazer uma visita ao banheiro,lavei o rosto e os dentes.Voltei ao quarto e comecei a me despir,tirando a blusa,quando a porta foi aberta,e eu olhei para trás,então.Os meus olhos se encontraram com aqueles que eu jamais esqueci,o brilho habitual estava lá.Tomando agora o lugar de um confuso, e envergonhado olhar.Ele pronunciou um “desculpe” e voltou a fechar a porta.
Mas,eu disse que podia entrar.

- Mas,troque-se primeiro ai eu volto,estarei esperando no corredor – ele disse.
- Esta bem,espere um segundo – Passado alguns minutos – Pode entrar.
- Pronto,assim é bem melhor,serio,me desculpe pelo ocorrido de agora a pouco. – Ele ainda estava envergonhado – Mas,o que faz aqui?
- Vim cumprir uma promessa de quatorze anos atrás – Seus olhos tomaram um brilho.
- Você lembra? – perguntou.
- Lembro sim,jamais esqueci.Você não sabe o quanto eu desejei por esse momento – Eu disse ansiosa.
- Eu também,então.. – O vermelho tomou suas bochechas,eu levantei,já que estava sentada na cama,e fui ate ele.Abracei ele tão forte,mas,não tão forte quanto ele.Nossos rostos foram se descolando do abraço e tomando forma para que um beijo fosse iniciado.
- Eu ainda te amo,sabia? – Ele disse.
- Eu sei,eu também nunca deixei de te amar.
Então,nós beijamos,fora um beijo de saudade,que se aprofundou,não parávamos nem para respirar,parecia que o oxigênio estava sendo passado um para o outro através daquela conexão.
Quando nos separamos,olhamos um para o outro e começamos a rir,eu dei um ‘soco’ de leve em seu ombro,e falei :

- Que feio,Peter! Mal,cheguei e você já esta me agarrando.
- Eu? Você que me agarrou e apertou a minha bunda! – Disse,começando a rir.
- Nem apertei,mas,eu sentir uma mão boba no meu seio esquerdo.
- Não falo nada,mas,eu sei que você irá sofrer muito agora! Cócegas! – Disse pulando em cima de mim e me fazendo dar risos histéricos.
- Para,por favor – Eu pedia em vão,já que ele começava novamente – Ah,é? Você vai ver!
Comecei a lhe fazer cócegas,tirei varias risadas,rimos tanto que depois de um tempo pedimos trégua.
Ficamos ali deitados na cama,olhando um para o outro e trocando caricias. Parecia perfeito,aquilo me fazia vibrar.A sensação de dizer ‘eu te amo’ há todo tempo estava ali presente,os beijos,os abraços.
Aqueles quatorze anos de certa forma,foram validos.Pois a espera só fizera o nosso amor aumentar.
Lembro que dormimos ali,juntos,esperando que o sol nascesse.

Na manha seguinte eu acordei com um vão ao meu lado,Peter já havia levantado,fiz minha higiene pessoal e tomei banho.Segui para a cozinha onde a mesa do café da manha já estava montada,me servi um pouco de café puro. Voltei para o quarto e decidi sair.Eu iria visitar um lugar onde as coisas haviam sido destruídas em minha forma de ver.
Por mais que aquilo doesse tanto dentro de mim eu teria que voltar lá,e encarar o meu passado,e eu queria saber,por onde ele andava.Resolvi buscar mais informações com a pessoa que mais sabia sobre ele.

- Tia? – Chamei-a
- Ah,querida! Já esta de pé? – Perguntou,respondi com a cabeça.
- Tia,eu quero saber de uma coisa – Comecei – Depois que nos formos embora,o que aconteceu à “ele”?
- Querida,para que você quer saber disso? – Ela abaixou a cabeça.
- Ele é meu pai,tia,apesar de tudo – respondi com firmeza.
- Esta bem,se você quer remexer nisso é porque esta realmente decidida – Ela serviu para nós duas drink’s e sentou-se a minha frente – Ele sabia que eu às tinha ajudado a fugir,e veio no dia seguinte a partida de vocês,tirar satisfações,nós o botamos daqui para fora.Mas,ele continuava a beber por ai e a arranjar encrencas,ate que um dia nós não o vimos mais,e nem tivermos noticiais durante 6 anos.Foi quando ele voltou para a cidade,estava renovado, parecia outra pessoa,parecia ter sucesso em algum trabalho que fez por fora,mas,o que ele tinha feito no passado não parecia ter cura,desde então,ele tem vivido na casa que era de vocês,sozinho.Somente tem saído para as coisas do dia-a-dia.
- Ele esta agora lá? – Perguntei intrigada.
- Está,querida você não quer esperar Peter voltar para irem juntos? – Disse meio temerosa.
- Não tia,vocês já se envolveram demais com isso.

Eu peguei minha bolsa e o carro,e segui para minha antiga casa,nada estava como eu lembrava,as ruas estavam evoluídas e equipadas com o comercio,a casa branca da esquina onde eu morava também não estava a mesma, envelhecida,eu ate diria.Mamãe nunca teria deixado isso ocorrer.
Estacionei o carro defronte a casa,e segui ate a porta à pé. Bati três vezes na porta,com as costas das mãos.
Uma voz dentro da casa perguntou:

- Quem é? Não queremos nada.
-Não estou oferecendo nada,pode vir abrir por favor? – Eu disse.Então uma cabeça apareceu na janela com os olhos espantados,parecia ter mil trincos na porta,pois o som deles se abrindo não parava.
- Alice! Alice! – Exclamou,me abraçando.
- Não sou Alice! – Disse fazendo-o me soltar – Sou eu,a Sophie.
- Não é possível,como você esta parecida com ela,parece sua gêmea. – Ele disse me encarando com um brilho no olhar – Vamos,entre!
- Obrigada. – Entrei,e tudo esta exatamente no lugar.Tirando o fato que não estava a bagunça do dia de minha partida,mas,parecia que mamãe estivera por ali.Parecia que nós nunca tínhamos ido embora.
- Você quer alguma coisa? Tenho suco,refrigerante,água. – Ele disse nervoso. O tempo tinha acabado com toda aquela vitalidade que ele possuía.Era irônico e engraçado ao mesmo tempo.
- Não,eu vim para conversar com você – eu disse,ainda de costas,analisando a casa.
- Claro,claro! – Disse nervoso – Sobre o que quer conversar?
- Sobre o que aconteceu há quatorze anos. – As palavras que, praticamente,cuspi fez sua expressão mudar,parecia que uma onda de melancolia o estava atingindo.
- Eu sabia que um dia você viria atrás de respostas.Assim como sei que você não me ama mais,e nem me reconhece como pai – Ele disse com pesar.
- Ainda bem que sabe disso,me poupa trabalho – Era mentira.
- Vamos,eu estou disposto a lhe responder tudo – Falou se sentando.
- Porque você fez tudo aquilo ? – Perguntei me virando para encará-lo.
- Veja bem,eu não estava no meu juízo,tente entender que eu errei com você mais do que com sua mãe,eu a fiz sofrer e sei o quanto você não queria isso.- Ele disse,e aquilo me atingiu como uma bala no peito.
Mas,quando eu estava prestes a lhe dar uma resposta seguida de outras perguntas,algo passou pela minha visão,me fazendo parar.Era uma pessoa.
Realmente era uma pessoa.Mas,como,se estávamos só nós dois!?
Respirei fundo,procurando ignorar a presença daquele ser que agora estava sentado olhando o jardim da frente,pela janela.

- É eu não queria isso,jamais quis,e você não se importava,você sentava ai e ficava assistindo seu jogo de futebol idiota,tomando a sua cerveja idiota. E parecendo que nada era mais importante que isso.Foi realmente bom nunca ter que viver a vida toda assim ,principalmente aqui! – Falei,eu já estava puxando todo o meu coração para fora ao falar aquilo – Você sabe que tivemos que fugir,ir pra longe,nos afastar,pra que você não nos destruísse mais ainda! Um erro seu! Não nosso, você me afastou de quem eu mais amava por quatorze anos! Quatorze longos anos! Você não sabe o que é isso. Você não sabe valorizar aquilo que você tem.Se hoje você esta assim,é porque as conseqüências estão chegando! – Botei a mão na cabeça.Procurei não chorar, mas era inevitável,aquilo tudo doía demais.
- Você tem todo o direito de me dizer isso,todo.Eu errei e pago por esse erro.Mas,minha filha,por favor me diga,você me perdoa? – Ele se levantou estendendo os braços,fazendo menção de me abraçar.
Recuei,peguei minha bolsa,e sai.
Quando eu olhei para trás,eu vi uma coisa surpreendente.
Tanto que meus olhos se arregalaram e levei a minha mão até a boca.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Capitulo I - Infância

Minha vida começa a partir de meus dias como um simples feto.Minha mãe me contava que adorava fazer círculos em sua barriga,acariciando ela,e eu retribuía seus toques com chutes,um sinal de resposta ao carinho.

Ela sempre fora uma dona de casa,sua mãe a criará assim,dizia à mim que nunca serviu para trabalhar fora de casa,e assim permaneceu nessa função.Seu jeito era bem pelicular,movimentava-se como uma libélula, graciosa,gentil e bondosa.Essa era minha mãe.Me lembro nitidamente de seu rosto pálido com as maças rosadas no rosto,sempre havia um sorriso nos pequenos lábios,que iam de orelha à orelha,alguns eram misteriosos,nunca rudez,podiam sim ficar descontentes com algo,mas,nunca rudez.

Ela me dará a cor de seus olhos,um castanho profundo,eu adorava aqueles olhos e o formato deles.Eram tão vivos.

Seus cabelos dourados com pontas cacheadas lhe cabiam exatamente o nome que lhe fora dado,Alice,como o de uma boneca de porcelana.

Infelizmente,meus cabelos não eram dourados,eram negros,sem as pontas cacheadas. Algo que eu herdará de meu pai.

Meu pai,um homem que trabalhava na fábrica da cidade que ficava alguns minutos da minha casa,era alto e tinha um rosto alongado,músculos mostravam seu trabalho braçal.Era rude e mal-educado,o oposto de minha mãe.Se chamava John.
Então,assim,nós éramos os Martin.

Eu nunca tive uma boneca especial ou um urso de pelúcia o qual eu daria o nome de Teddy,nem cachorros circulando pela casa,irmãos nunca vieram ao pensamento de meus pais,mas a felicidade sempre esteve ali,aconchegada em mim,tanto em dias quentes quanto em frios.

A casinha de bonecas em meu quarto e as milhões de Barbie que minha mãe me dará,todas em um estante organizadas,outros brinquedos enfeitavam meu quarto rosa bebe com adesivos de borboletas e flores nas paredes, tinha um cheiro de bala de tutti-fruti.

Nos natais meus avós maternos sempre vinham para a ceia e traziam vários presentes para mim,mamãe me dará no meu natal de quatro anos,uma gargantilha com uma sapatilha e meu nome escrito na mesma,dizendo que aquele era seu presente especial para mim.

Meus aniversários sempre cheios de meus amigos do jardim de infância e suas mães que conversavam e perguntavam a receita das diversas comidas que minha mãe fará para aquele dia.Eu estava sempre com meu melhor amigo na minha cola.Éramos inseparáveis.

Os dias calmos e felizes acabaram quando eu completará sete anos de idade, na primavera daquele ano,tudo se modificou.Algumas discussões se tornaram freqüentes,e gritos ecoavam pela casa durante a noite.
E na manhã seguinte,as marcas roxas e os olhos manchados de lagrimas apareceram na pele pálida de minha mãe.

- Sophie,se arrume,vai perder o ônibus da escola – Ela disse com a voz por um fio.
- Estou indo,mamãe – Eu a encarei enquanto ela me entregava a lanche.
Ela então acariciou meu rosto,e me deu um beijo na testa.Eu segui para a frente de casa,onde o ônibus me esperava.

O caminho para a escola era sempre o mesmo,meu melhor amigo,sentava ao meu lado,naquela manhã eu não estava com nenhuma vontade de abrir a boca, o que não passou despercebido por Peter.

- Algo aconteceu,Sophie ? – Perguntou.

Peter Mcharring,morava algumas quadras da minha casa,sua mãe era a dona da lanchonete local,e seu pai trabalha com o meu na fábrica.A mãe de Peter sempre fora a melhor amiga de minha mãe.Quando algo estava mal,minha mãe corria para o colo dela.E era isso que aconteceria esta manhã.

- Não,Peter,está tudo bem – Disse olhando-o rapidamente.
- Você parece descontente com algo.
- Impressão sua,só não estou com muita vontade de ir para a escola – Eu disse.
- Você não me engana,Sophie,está acontecendo algo e só que você não quer me contar – Ele disse com as sobrancelhas levantadas,era uma característica sua,e ela só aparecia quando ele estava desconfiado.
- Se você sabe disso,porque insiste? – Perguntei.
- Porque me preocupo com você,só por isso – Respondeu.
Soltei um suspiro e apenas disse.
- Acho que algo de errado está acontecendo em casa, e eu não sei o que é.E, por favor,isso é o máximo que direi a você,portanto,não insista.
- Está bem,fico feliz que confia em mim.Quero que você me chame se algo acontecer está bem ? – Ele disse pegando em meus ombros e olhando nos meus olhos.
- Prometo que farei isso.

O ônibus abrirá suas portas em frente à escola, e todos saíram desesperados para suas respectivas salas,eu e Peter,fôramos os últimos.
O dia passará tão devagar que em um horário fiz questão de ficar no banheiro feminino encarando o nada.Não houveram questionamentos sobre o que pudera ter havido no quarto ao lado,e os gritos.
Sei que mamãe contaria a melhor amiga dela o que havia acontecido e tudo ficaria bem quando eu voltasse para casa.
Pelo menos,era o que eu esperava.

Minha entrada em casa fora normal,por algum motivo as fotos que estavam em cima da lareira me fizeram parar e ficar observando-as,em uma delas,minha mãe me segurava ainda pequena nos braços,o sorriso esplandeceste estava lá,iluminando todo o cômodo.Passei a mão pela moldura,estava meio empoeirada.Peguei-a para mim,não sei porque razão eu fizera aquilo,mas,aquela foto trazia conforto.

Tudo aquilo fora se repetido,diversas e diversas vezes, os gritos incessantes tanto de desespero quanto de raiva,palavras jogadas umas as outras,as noites durante isso tudo foram conturbadas e me amedrontavam de algum modo,me deixavam confusa,mas,lagrimas que eu esperei que corressem não correram,não lamentei.Afinal,o que havia pra ser lamentado? Somente os dias felizes,que se foram,somente isso seria lamentado por mim.O ódio misturou-se rapidamente com aquele medo, tornando-os um só.

Não muito tempo depois, minha mãe adentrará em casa, trazendo compras para o jantar, eu sabia que ela se ocuparia pelo resto da tarde para fazer um jantar especial para ‘tentar’ resolver as coisas, resolvi ir ao meu quarto,já que havia lição de casa para entregar no dia seguinte.
Vagamente lembro que adormeci com os livros escancarados em minha frente,limpei a baba que havia se formado no canto de minha boca,e ajeitei o cabelo que ficará desgrenhado.Segui para a sala,e encontrei meu pai tomando cerveja no sofá com batatinhas a sua frente e assistindo o jogo de futebol que passava na TV,somente disse às habituais palavras : “Boa noite,pai” e me dirigi a cozinha sem esperar por uma resposta,esperei encontrar minha mãe cortando alguns legumes,mas,ela estava em um canto com as mãos levadas aos olhos,a marca em seu braço me fez dar um passo atrás e olhar em direção ao cômodo que eu acabará de sair,o olhar direcionado a um homem,somente à aquele homem.
Cheguei perto dela e tentei tirar suas mãos do rosto,mas,aquilo parecia meio que não adiantar,ela queria-o esconder,esconder seu rosto do mundo, esconder seu rosto dele,esconder seu rosto de mim.Sinceramente não a culpei por isso,se houvesse um alguém que deveria ser culpado por aquilo, este alguém estava sentado,fingindo não se importar com mais nada.Só pronunciei as seguintes palavras em seu ouvido : “Vamos para a casa da tia Beth”.E a levantei com cuidado,sempre com o olhar direcionado a sala,abri a porta da cozinha com cuidado e fomos juntas atravessando o quintal,e caminhando até a rua,corremos até a lanchonete de tia Beth,onde aos fundos ficava a casa deles.
Tia Beth nos viu rapidamente e nos apartou,levando-nos aos fundos.

- Meu deus,Alice! – Exclamou Beth – O que ele fez com você dessa vez?
- Nada,Beth,foi apenas uma briga boba,foi minha culpa,não se preocupe – ela dizia confusa,lançando rápidos olhares para mim.
- Peter,Peter venha aqui! – Gritou tia Beth.
- Sim? – disse meu amigo de olhos confusos.
- Leve Sophie para dentro,dei-lhe um pouco de chocolate quente – Falou por fim.Peter pegou em minha mão e me levou até a cozinha de sua casa.
Ela cheirava a chá de hortelã com mel em um dia quente,já era inverno. E eu nem notará quanto tempo havia estado absorvida com isto,já fazia três anos que aquilo tudo havia começado.
Ele me encarava e andava de um lado para o outro.Eu encarei o nada,novamente.

- Sophie,eu não pedi para que me chamasse ? – ele disse.

Você sabe aquele tipo de momento em que você só estar absorvido com algo e que sua cabeça só gira em torno daquilo? Era justamente como eu estava naquele momento,eu podia ouvir a voz de Peter ecoando em minha cabeça e suas mãos passando em frente aos meus olhos e me sacudindo os ombros,eu estava gritando tentando responder as suas perguntas,mas as palavras fugiam da minha boca,ela abria e fechava,sem emitir som algum.

Eu podia ouvir,estava atenta aos choros que vinham do cômodo que estávamos à pouco.Pude pegar partes da conversa,e algo que minha mãe dissera meio que cortará meu coração,e naquele momento eu pude sentir o que era ter pena de alguém.
A conversa incluía planos para um novo futuro.Um futuro distante no qual incluía sair da cidade e construir novas coisas,mas,não tínhamos nada por onde começar,puxei Peter pelo pulso em direção ao outro cômodo para ouvirmos melhor a conversa.

- Temos o carro que Peter e August consertaram, porque não o usa para ir? Sei que você aprendeu a dirigir, vá para algum lugar com sua filha,mas o que você não pode é continuar a viver assim! – disse tia Beth.
- Eu sei Beth,eu sei! Mas e a Sophie? Não sei se ela vai entender,não sei como explicar tudo isto a ela – Disse mamãe.
- Você não acha que com isto tudo vindo a acontecer há três anos,você não acha que ela iria entender? Sophie é atenciosa,ela a trouxe aqui,você não acha que já é prova suficiente de que ela tem noção do que ocorre? – Disse por fim.
- E as nossas coisas? Como vou fazer para pegar? Ele vai descobrir, já deve estar aos escândalos e quebrando tudo em casa – Disse mamãe olhando fixamente para um canto.
-Amanhã quando ele estiver na fábrica nós vamos pegar suas coisas e ainda amanhã vocês partem da cidade,por hoje as ajeitarei aqui em casa – Disse tia Beth a abraçando vendo que esta voltou a chorar.
- Obrigada Beth,muito obrigada! – Disse mamãe aos soluços.

Fui escorregando ate o chão,Peter sentou-se ao meu lado,e encaramos o nada.
A idéia de sair da cidade já havia passado por minha cabeça diversas vezes, mas,não na situação de ‘fugitiva’.Sair para criar algo que nem todo os habitantes daquela pequena cidade saberiam,morar lá ate ter idade para ir para uma universidade e lá ir construindo tudo aos poucos o que eu desejaria para o futuro.Mas naquele momento,eu realmente queria sair de lá.
Me separar de todos não ia ser fácil,principalmente de Peter,mas era necessário.Ele sabia disso,sentia isso.Nós sentíamos isso.

Terrytown não era exatamente uma cidade totalmente movimentada,era normal,todos conheciam todos,e seus antepassados. Todos eram pacatos e o que geralmente aconteciam em Terrytown,permanecia em Terrytown.
Morávamos um pouco distante do centro da cidade,minha casa não tinha um jardim na frente,mas a grama era meio esverdeada,a casa era branca,normal nada mais,nada menos.Seu interior era decorado com papeis de parede diferentes das outras casas,os da cozinha era um azul com margaridas brancas,o papel de parede salmão da sala,ostentava um clima simples,meu quarto como fora dito antes possuía a cor rosa bebe,os dos meus pais, um verde fraco,quase desbotando,mas dava um ar belo,as janelas eram perfeitas e davam para os lados e fundos da casa.
O cheiro,a casa sempre tinha um cheiro de flores,era agradável e sutil.
E de repente me vi numa situação de que nunca mais eu poderia sentir as sensações que durante dez anos de minha vida eu senti,mas,eu as teria que deixar por uma questão de segurança,e talvez,um dia quem saberia,eu não voltasse?

Fui acomodada no quarto de Peter,eu estava sem sono,ele deitado em um colchão que estava no chão do lado de minha cama também parecia não conseguir.A idéia de nos afastarmos era realmente assustadora,nós saberíamos que a partir do momento que eu partisse a incerteza dominaria nos dois,quanto a um voltar.Eu olhava fixamente para o teto onde o abajur de bichinhos do mar produzia sombras nas paredes,eles giravam ,giravam e giravam,olhei um instante para o lado e vi que ele fazia o mesmo.O silencio predominou até que ele se pronunciou.

- Sophie? – Chamou-me.
- Sim?
- Você sabe que eu sempre vou ser seu melhor amigo,não sabe? – Ele disse. Meu coração começara a bater num ritmo estranho.
- É claro que eu sei,ninguém jamais vai tomar seu lugar! – Eu disse,e era verdade,ninguém seria como ele.
- Prometo que um dia eu vou encontrar você,portanto,me espere.
De repente tudo que havia se acumulado por três anos,passou a transbordar em lágrimas,estendi a mão e ele a segurou.
Apertei os olhos afim que aquilo parasse,mas continuou,ele percebendo tal coisa,se levantou e me olhou nos olhos.

- Hei, o que foi? – Questionou.
- Nada – Limpei as lágrimas.
- Eu amo você,Sophie – Então ele me beijou.

Meu primeiro beijo fora dado pelo meu melhor amigo,não fora algo que me fez infeliz,aquilo,pelo contrario me fez vibrar de alegria.Parecia que nada existia.
Eu queria que nada existisse.
Ele se agasalhou ao meu lado,entrelaçamos as mãos e ficamos lá.
Eu pedi para que o relógio não corresse com as horas e que o sol jamais nascesse.
Pedi que só existisse nos dois.
Eu não queria esquecer daquilo,então lhe pedi uma foto sua.E lhe dei uma minha.
Prometemos dentro daquele quarto com a lamparina de bichinhos do mar rodando pelas paredes que jamais íamos deixar de nos amar,que esquecer também não valia.E daqui alguns anos íamos nos encontrar.

- Você promete? – Ele perguntou.
- Eu prometo.


Não importou o quanto eu pedi para que o sol não nascesse,porque era simplesmente impossível que isso não ocorresse.
A manhã que se sucedeu fora agitada.
Mamãe eu fomos para a nossa casa junto de Peter e tia Beth.Como eu previ, tudo fora quebrado.
Fui para meu quarto com Peter,peguei uma mala empoeirada que estava em baixo da cama e juntei todas as minhas roupas,perfumes,e coisas pessoais.
Tia Beth pegou alguns panos de cama,e botou em sacolas,juntamente com alguns copos,talheres e pratos.
Mamãe sentou-se em sua cama por um longo tempo,acariciando as colchas, olhando por toda a extensão do quarto,eu a observei.
Era impossível para ela largar o lugar que passou quase sua vida inteira,era impossível para mim sair daquilo tudo,deixar tudo para trás.
Nunca é fácil deixar as coisas para trás,e viver como se elas não existissem,pois,era isso o que íamos fazer,um “recomeço”.Tia Beth,arroumou um lugar para ficarmos em uma cidade distante,eu iria estudar na escola local de lá,e provavelmente novas pessoas iriam aparecer ao decorrer,quem saberia ate se mamãe não se apaixona-se novamente? Apesar de não gostar, eu fazia planos para a “nova” vida.Mas,o meu coração não se acostumava com a idéia de ter que deixar Peter.Nossos pais jamais seriam contra o nosso relacionamento,mas,o destino parecia há todo instante querer que nos separar,e isso me entristecia mais ainda.Meus sonhos estavam sendo destruídos de uma forma,digamos,violenta.Quando partimos,mas,uma vez eu troquei o olhar mais puro que eu podia dar com Peter,nós nos despedimos e pegamos a estrada.
Um certo ar de segurança foi avistado nos olhos de minha mãe,parecia que de alguma forma ela desejava aquilo.E a medida que aquilo ia preenchendo seu coração novamente,ela passava para mim.Então,eu enfim pude perceber que talvez a “nova” vida,não seria tão ruim quanto eu havia pensado.

Introdução

Eu não conto esta estória direcionada à alguém,gostaria,mas não posso.
Por quê?
Não há um motivo real.

Todos em um determinado momento em sua vida resolvem esconder uma parte dela e fingir que jamais aconteceu.Eu realmente tenho várias coisas a esconder,portanto,em meio a um desespero resolvi escrever aquilo que durante anos me fizeram mal.
Acho que talvez o mundo se adapte a minha mentira.
A estória que se sucederá contará apenas os fatos que aconteceram nela,não espero que você se identifique,caso isso ocorra,saiba que você deve escolher um final diferente.

Procure não criar sentimentos por cada palavra ou personagem que você vier a ler por aqui.
Porém peço-lhe uma coisa,caso consiga,jamais revele esta estória.